
Câmara mais plural da história de Cachoeirinha toma posse
Representatividade de segmentos da sociedade muda perfil de vereador geográfico
Cachoeirinha – A mais plural composição da Câmara de Vereadores da história de Cachoeirinha tomou posse na noite desta quarta-feira (1). Enquanto o perfil médio dos vereadores era do geográfico, ou seja, defensor do seu reduto eleitoral em uma zona específica da cidade, com pedidos intermináveis de favores para garantir votos, segmentos da sociedade não tinham representação claramente identificadas. A realidade, mudou.
O primeiro aspecto da nova Legislatura é a presença feminina. São quatro mulheres e uma delas, Jussara Caçapava, é a presidente eleita. Apesar de nenhuma ter em sua base uma identificação clara com as causas femininas, as mulheres passaram a se sentir representadas. Por outro lado, três segmentos agora possuem representação: meio ambiente, LGBT e famílias atípicas.
Pricila Barra, que como suplente na Legislatura passada chegou a ser vereadora por um período, é mãe de dois meninos com uma doença rara e degenerativa, a distrofia muscular congênita merosina negativa. Em seu discurso logo depois da posse, já deixou claro que políticas públicas direcionadas às famílias atípicas, nortearão o mandato.

“Hoje, assume como vereadora uma mulher nessa Casa, uma mulher corajosa, guerreira, com sangue nordestino, ao qual muito me orgulho. Uma esposa, uma mãe e mãe atípica. Uma mulher, que com uma força de uma mãe leoa, que por lutar por seus filhos decidiu se levantar e lutar por outras tantas famílias que precisavam de voz, de sensibilidade …”, disse a parlamentar do Podemos.
Já os outros dois segmentos vêm do PT. Léo da Costa é identificado com a causa ambiental, sobretudo a luta pela preservação do Mato do Júlio iniciada com a criação do Coletivo Mato do Júlio. O outro é Gustavo Almansa forjado no movimento LGBT. Ele é irmão do ex-vereador David Almansa, que concorreu a prefeito. Os dois parlamentares são os mais jovens eleitos em Cachoeirinha e com formações acadêmicas prometem qualificar os debates no Legislativo.
Léo da Costa, o mais jovem eleito em Cachoeirinha e o segundo mais votado da história, leu um discurso escrito. O texto trouxe um equívoco por chamar Cachoeirinha de cidade dormitório. Cachoeirinha é um dos municípios da região metropolitana que mais gera empregos proporcionalmente ao número de habitantes. Costa frisou que as pessoas se acostumam com a vida que têm. Ele, não.
“Cachoeirinha, uma cidade dormitório, que a gente se acostuma … a gente se acostuma a não ter área de lazer, a gente se acostuma a morar em um lugar que é difícil de se orgulhar, a gente se acostuma à poluição, a contaminação da água, a lenta morte dos rios. A gente se acostuma a abrir o jornal e ler sobre a enchente. A casa de bombas não funcionar, a rua que vivemos há 20 anos alagar. E aceita a enchente, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita que não tinha o que fazer, que foi um desastre”, disse.

O parlamentar continuou na mesma linha: “A gente se acostumou a deixar os ricos mandarem na cidade e quando se tornaram os donos da nossa cidade, eles nos acostumaram a dizer o que devemos pensar. Aceitando o pensamento atribuído pelos ricos da cidade, aceitamos o modo de ver o mundo de que nós, gente pobre, também temos culpa do resultado da distribuição deles. Aceitamos os donos da água, donos da terra, donos do mercado imobiliário, os donos que fazem da nossa cidade, uma cidade dormitório afogada pela água. A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas tenta não perceber, mas vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Eu escolho não me acostumar. Sou resultado de uma luta coletiva e meus passos vem de longe.”
Já Gustavo Almansa saiu em defesa de políticas públicas que contemplem a diversidade. “É com muita alegria que tomo posse como vereador de Cachoeirinha, representando o nosso campo progressista de esquerda e também a renovação na política … eu e o Léo [da Costa], os mais jovens da Legislatura, isso é graças a 1.491 pessoas e todos aqueles e aquelas que acreditam em uma cidade mais inclusiva. E quando eu falo de cidade inclusiva, eu estou falando de acessibilidade, igualdade de direitos, acesso à educação e cultura, acesso universal à saúde mental, à saúde física. Estou falando de apoio aos grupos marginalizados da sociedade e combate ao ódio, ao estigma e a todo tipo de preconceito. Porque uma cidade inclusiva é aquela que reconhece a diversidade da sua população e cria políticas públicas para que todas as pessoas se sintam parte dela”, salientou.
Eleição da Mesa Diretora

Logo depois da posse dos eleitos e reeleitos, ocorreu a votação para a escolha da Mesa Diretora. A chapa encabeçada pela vereadora Jussara Caçapava foi eleita com apenas dois votos contrários, ambos do PT. A Mesa Diretora tem como vice presidente tem Cléo Pereira (MDB) como vice-presidente, Flávio Cabral (MDB) como 1º secretário e Tiago Eli (PP) como 2º secretário. A Câmara segue em recesso até o dia 31 de janeiro e a primeira Sessão Ordinária ocorre em 4 de fevereiro.
Os vereadores:
- Léo da Costa (PT) – 3.117 votos
- Jussara Caçapava (Avante) – 2.509 votos – reeleita
- Cléo do Onze (MDB) – 2.483 votos
- Tiago Eli (PP) – 2.324 votos
- Mano do Parque (PL) – 1.921 votos – reeleito
- Otoniel Gomes (MDB) – 1.494 votos – reeleito
- Gustavo Almansa (PT) – 1.491 votos
- Paulinho da Farmácia (PDT) – 1.427 votos – reeleito
- Marcelinho (MDB) – 1.286 votos
- Zeca Transportes (MDB) – 1.222 votos
- Flávio Cabral (MDB) – 1.214 votos
- Pricila Barra (Podemos) – 1.170 votos
- Edison Cordeiro (Republicanos) – 1159 votos – reeleito
- Gilson Stuart (Republicanos) – 1.151 votos – reeleito
- Uilson Dropa (Podemos) – 1020 votos
- Sandrinha (Republicanos) – 898 votos – reeleito
- Claudine (PP) – 876 votos