Isolamento total e muito bem aproveitado

Quando a quarentena se torna favorável ao relacionamento do casal e com os filhos

Cachoeirinha – Antes do início da quarentena para combater o coronavírus, a rotina do casal baseava-se assim: Ted Justo, 39 anos, técnico contábil, trabalhava em Cachoeirinha, Fernanda Justo, 36, analista administrativo, em Porto Alegre. Durante a semana, ele levava a esposa até a parada para pegar o ônibus para o trabalho. Depois levava o filho mais velho, Davi, 7 anos, para ficar com sua mãe pela parte da manhã. Dirigia-se, então, até a creche onde deixava Gabriel, com um ano, e seguia para o escritório. Ao meio-dia, retornava até a casa da mãe, almoçava, largava o maior na escola e voltava ao trabalho. No final do dia, antes de buscar a esposa na parada, Ted já estava com as crianças novamente.

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Segundo Fernanda, os finais de semana eram sinônimos de muitos passeios. “Como sempre trabalhamos fora, optamos por aproveitar muito as nossas folgas, viajando e indo a lugares diferente. Dificilmente ficávamos em casa”. O corona vírus chegou ao Brasil, a quarentena foi instaurada em meados de março e a rotina da família Justo mudou por completo. “De um dia para o outro éramos nós quatro em casa o dia todo”, ressalta Fernanda.

Mesmo em seu lar, o casal continuou trabalhando home office e criaram uma outra rotina para essa nova fase. “O Ted ainda cumpria duas horas pela manhã de forma presencial no trabalho. Nesse período eu ficava em home, em casa, sozinha com as crianças. Quando ele chegava, dividíamos as responsabilidades”, conta a mãe.
Enquanto o marido trabalhava e ficava de olho no pequeno, Fernanda assumia as tarefas com o Davi, intercalando o trabalho com as atividades escolares do filho. “Acredito que o grande barato disso tudo é que não tínhamos muito convívio, nós quatro juntos, durante a semana em nossa rotina anterior, e passamos a realizar atividades e vontades, para as quais não tínhamos tempo. Nunca cozinhei tanto como agora e descobri que tenho talento na cozinha!”, diverte-se a esposa.

Fernanda conta que sempre foram muito criativos e nunca deixaram a peteca cair. “Decidimos que nossos domingos continuariam sendo especiais. A gente se arruma para ficar em casa e fazemos um almoço especial”. Depois a família sai para um passeio que também tornou parte importante. “Damos uma volta de carro para dar um “oi” à distância para a minha mãe, Vera, minha sogra, Maria, o dindo, Márcio, e minha irmã, Juliana. Nós, de dentro do carro, e elas, sem ultrapassarem o portão, pois já estamos desde 18 de março em isolamento total e essa foi a forma que encontramos de matar um pouco a saudade da família com segurança”.

Essa rotina durou três meses. Com o retorno presencial de Fernanda ao trabalho, outra adaptação surgiu. Agora era a vez de Ted permanecer em casa, home office e com as crianças. “Nos primeiros dias foi bem complicado, mas consegui me organizar. Aproveito as manhãs, que os meninos dormem até mais tarde, para adiantar algumas coisas do trabalho. Criei um cronograma de horários, coloco despertador para lembrar da hora da fruta, da mamadeira. Tem o momento em que eles assistem desenho, então vou administrando, de acordo com o tempo deles e o meu”, relata Ted.

Os momentos a dois foram intensificados e a intimidade aumentou ainda mais. Sintonia nunca faltou para o casal, mas agora eles tinham, apesar do aumento das tarefas em casa, tempo para curtirem um ao outro. “Consegui colocar as séries em dia com o Ted”, diverte-se ela.
Assim como Fernanda, Ted também ressaltou o fato de toda a família ter esse tempo maior junto como algo muito positivo.”Além de ver as séries com a Fernanda, que não conseguíamos com tanta facilidade, hoje tenho tempo de brincar e jogar com os guris, e tudo isso é muito gratificante”.

Quando chega em casa, a função principal da Fernanda é preparar a janta para a família e deixar a comida encaminha para o dia seguinte. “Como o ritmo dele está mais puxado, por causa do home e das crianças, tenho procurado amenizar o peso. Esses dias cheguei do trabalho e a casa estava de pernas pro ar. Numa situação normal, eu teria brigado, reclamado, mas como o momento é outro, baixei minha bola e procurei olhar tudo de outra forma. Trouxe até uma cervejinha para ele poder relaxar” conta.

Para matar a saudade durante o dia, as vídeo-chamadas aproximam os quatro até a noite chegar e todo mundo estar junto novamente. “Nesse mês completamos 22 anos de namoro. Já passamos maior parte de nossas vidas juntos. Aproveitamos para viver esse momento como um presente para a nossa família estar ainda mais próxima”, conclui Fernanda.