POLÍTICA

A confusa matemática do secretário sobre o financiamento chinês

O financiamento era US$ 78 milhões, virou US$ 70,51, o secretário diz que é US$ 88 milhões

Cachoeirinha – O secretário de Planejamento de Cachoeirinha, Paulo Garcia, vem apresentando dificuldades na divulgação de informações precisas sobre o financiamento para a execução do Programa Cachoeirinha – 2050 – Resiliência Urbana e Inovação na Gestão de Riscos Climáticos. No dia 7 de maio, foi anunciado um financiamento de US$ 78 milhões junto ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), com sede em Pequim, na China.

Com o passar dos dias, em meio a questionamentos da reportagem por mais informações sobre o empréstimo internacional, Garcia revelou que havia uma contrapartida de 20%. Mais adiante acrescentou o que nunca havia dito: que obras financiadas pelo Estado e União na gestão de riscos climáticos, como a do Arroio Passinhos, podem ser usadas como contrapartida, diminuindo ou eliminando o uso de dinheiro do caixa da Prefeitura.

E o que era US$ 78 milhões começou a ser divulgado como US$ 88 milhões enquanto tramitava na Câmara de Vereadores um pedido para um financiamento de até R$ 70,51 milhões. O Legislativo aprovou e com a contrapartida de 20% informada pelo secretário, o valor total envolvido no Programa, e não no financiamento, iria a US$ 84,61 milhões.

Na última quinta-feira (4), questionado porque vinha divulgando o valor considerado errado pela reportagem, o secretário disse que a contrapartida não era de 20% como havia informado. O previsto, segundo ele, é uma contrapartida de no mínimo 20%, algo que nunca havia dito. O valor que a Prefeitura tem que investir, seja com recursos próprios ou de projetos do Estado ou União, é de US$ 17,64 milhões.

A soma deste valor de contrapartida com o financiamento autorizado pela Câmara, desta forma, chega aos US$ 88 milhões. Mas o financiamento não é de US$ 88 milhões e sim de US$ 70,51 milhões. O investimento no Programa é que é de US$ 88 milhões.

O que o secretário pode ter feito foi calcular 20% de US$ 88 milhões, que dá os US$ 17,64, mas seria um cálculo errado. Estaria errado porque o percentual de contrapartida deveria ser calculado sobre o valor do financiamento, que é de US$ 70,51 milhões, já que ele afirma que a contrapartida é sobre o valor financiado. Para calcular de quanto por cento é a contrapartida, basta usar a regra de três. Então, 70,51 é 100% e 17,64 é X. O cálculo fica assim: 17,64 x 100 é igual a 70,51 x X. Desta forma, X é igual a 1.764 dividido por 70,51. O resultado é 25,01% e não 20%.

O secretario estaria correto se os 20% a serem investidos pela Prefeitura fossem sobre o valor total do Programa e não sobre o valor a ser emprestado pelo banco chinês, mas ele não consegue responder essa questão. O secretário, que nos bastidores disse que não gosta de conceder entrevista ao site O Repórter porque as perguntas são difíceis de serem respondidas, não gostou da abordagem feita na última quinta-feira.

Ele deu resposta ao questionamento sobre o motivo que levava a afirmar que o financiamento era de US$ 88 milhões já que a contrapartida era de 20%. A pergunta foi enviada pela manhã de quinta e foi respondida tarde da noite pelo whatsapp. “Eu afirmo que temos a previsão de investimentos de US$ 88 [milhões] porque essa é a nossa previsão”. E mandou a printer da contrapartida. Em rápido cálculo, a reportagem percebeu que a contrapartida não era de 20% e respondeu: “Então a contrapartida não é 20%. É mais. Isso? Questão de matemática.” O secretário disse: “Contrapartida é 20% mínimo”. E não explicou se era sobre o financiamento ou sobre o total do Programa.

A reportagem enviou a última mensagem: “Então tudo o que foi divulgado até agora está errado. Obrigado”. O secretário de Planejamento não gostou, se considerou agredido e respondeu às 22 horas: “Com o devido respeito, sua colocação transmitiu uma impressão de falta de cortesia e consideração. Especialmente vindo de alguém ligado à imprensa, seria esperado um cuidado maior com as acusações, pois agredir dessa forma parece despropositado. Sempre que necessitar de informações, por gentileza, dirija-se à Assessoria de Comunicação do Município. Tenha uma boa noite.” A reportagem não rebateu.

O secretário de Planejamento não costuma atender chamados da Diretoria de Comunicação da Prefeitura sem haver insistência. E dá respostas incompletas para os questionamentos detalhados enviados pela reportagem.

Após a publicação desta matéria, a reportagem localizou a Carta Consulta Nº 61248 enviada à Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia. Nela está escrito que a contrapartida é de 20% sobre o total do Programa: “Os recursos de contrapartida do município correspondem a 20% do total do Programa”. Desta forma, o financiamento é de US$ 70,51 milhões e a contrapartida sobre o total do Programa, e não do financiamento, é de US$ 17,64 milhões. A soma dá os US$ 88 milhões do Programa e não do financiamento.

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