Familiares de oposicionistas, ameaçados de morte, estão escondidos e nem vereadores dormiram em casa na noite passada
Cachoeirinha – Choro, revelações de pressões da família para renunciarem e ainda uma possível retirada de candidatura à Mesa Diretora da Câmara de Vereadores marcaram uma reunião de oito parlamentares oposicionistas no Ministério Público no final da manhã desta quarta-feira (18). Com familiares sendo ameaçados de morte, podendo haver até o envolvimento do crime organizado, os vereadores relataram as ameaças e pressões para a promotora Fernanda Weiand Braum, que está respondendo pela Promotoria Criminal.
Ela recomendou que cada um faça o registro de uma ocorrência policial e solicitou o vídeo da Sessão desta terça-feira (17) e outros documentos. Depois de ouvir os relatos, que duraram quase uma hora, Fernanda informou que também vai encaminhar o caso para a promotoria responsável pela área da improbidade administrativa. Esta fase inicial será de análise dos fatos apresentados e havendo algum crime ou irregularidade poderá ser aberto um inquérito para investigar e apurar os responsáveis.
Na Sessão desta terça, os vereadores da base governista esvaziaram a Sessão para evitar a eleição da Mesa Diretora diante da derrota iminente, seja pelo número de votos ou por uma possível irregularidade na inscrição da chapa de Felisberto Xavier.
Além das boletins de ocorrência e da denúncia no MP, os oposicionistas analisam a possibilidade de um mandado de segurança para impedir a eleição da Mesa Diretora, mesmo tendo os votos necessários para a vitória. O vereador Rubens Otávio argumenta que há muita pressão e que o processo precisa ser democrático e transparente sem interferências externas.
O choro do medo e nervosismo
Visivelmente estressados e abatidos, boa parte dos vereadores oposicionistas não conseguiram se conter diante da promotora. Marco Barbosa se encarregou de fazer os relatos das ameaças comentando que o vereador Ibaru Rodrigues não compareceu na Sessão devido a elas e ainda por ter tido um princípio de infarto tamanha a pressão para votar na chapa do Governo.
Barbosa caiu em prantos e teve que se retirar da sala. Logo em seguida foi a vez do candidato da oposição, Edison Cordeiro, chorar. “Eu não posso aceitar ter nas minhas mãos o sangue da família dos outros”, disse ao revelar que tinha pensado em retirar a candidatura, caso a Sessão tivesse continuado, para evitar que alguém fosse morto. “Eu ia desistir por recear pela vida daqueles que estão passando mal”, completou.
A esta altura, a emoção tinha tomado conta da sala e os vereadores, com olhos marejados, seguiram fazendo seus relatos. “Minha família não quer voltar para casa e estou prestes a renunciar por causa de uma política suja e porca”, revelou Paulinho da Farmácia, que fazia parte da base governista e entregou os cargos que tinha. “Se algo acontecer, tem nome e endereço”, frisou, se referindo ao Executivo, mas sem citar nomes.
“Na noite de segunda-feira eu desliguei o celular para não receber intimidação. Minha família está pedindo para eu renunciar esse ano ainda. É triste, porque a gente tem o sonho de fazer algo pela cidade e está trancado nesse sistema. Estou muito assustado e qualquer situação que aconteça, como disse o Paulinho, tem nome e endereço”, desabafou Eduardo Keller.
“Nós precisamos de ajuda”, acrescentou Nelson Martini. “Não temos a tranqüilidade para irmos ao parlamento”, comentou Alcides Gattini, revelando que não dormiu em casa e que suspeita de haver o envolvimento do crime organizado por trás das ameaças para a chapa governista vencer a eleição da presidência.
Marco Barbosa denunciou as ameaças recebidas do secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, Alécio da Rosa, que foi exonerado para assumir a Procuradoria do Legislativo. “Ele disse que iria complicar minha vida, me chamou de pistoleiro e queria que eu fosse para a rua brigar. Coisa de guri”, salientou. Rubens Otávio frisou que a oposição quer um processo de eleição da Mesa como deveria ser. “Queremos uma eleição transparente, democrática, dentro da legalidade e sem interferência do Executivo.”
Governo não tem como vencer a eleição
Dentro do cenário atual, sem acontecer alguma desistência ou mudança de voto no bloco oposicionista, o Governo não tem como vencer a eleição da Mesa Diretora. A única possibilidade, levantada na manhã desta quarta pela reportagem, seria a inscrição de uma nova chapa pelo bloco governista, colocando Deoclécio Mello como candidato.
Sem a presença de Ibaru Rodrigues, que está de repouso por recomendação médica, não podendo ser substituído por um suplente do PSB conforme o Regimento Interno do Legislativo, o cenário é de empate. São 8 votos para a chapa da oposição de Cordeiro e 8 para a chapa da situação de Xavier. Neste caso de empate, a vitória fica com o candidato que teve mais votos na eleição municipal. Cordeiro, com 1.551 votos vence Xavier, que fez 887.
O único que poderia superar Xavier é Deoclécio Mello, que fez 2.251 votos. Mas se ele virar candidato na última hora, Cordeiro retira a candidatura e entra a de Rubens Otávio, o mais votado da cidade com 2.772 votos. Neste quadro, a oposição vence o Governo. Uma Sessão Extraordinária deve ser convocada nesta quarta-feira para a apreciação de projetos que não foram votados na última terça e para a eleição da Mesa Diretora. Ela poderá acontecer na quinta ou sexta.
Futuro aponta processo de cassação contra Miki
A nova crise no Legislativo, desde o episódio fracassado de tentar cassar os mandatos do prefeito Miki Breier e do vice Maurício Medeiros, anulado pela Justiça e derrubado em Plenário em raro momento de união dos vereadores situacionistas, aponta para um cenário nebuloso para o prefeito na véspera da eleição do ano que vem.
Há duas CPIs em andamento no Legislativo e os relatórios entrarão em Plenário em fevereiro do ano que vem. O clima de tensão trouxe uma união ainda não vista entre os oposicionistas. Com maioria de votos, eles têm condições de aprovar um dos dois ou os dois relatórios e abrir uma Comissão Processante para cassar o mandato do prefeito caso ele seja apontado como responsável por alguma possível irregularidade. Se os vereadores não deixarem brechas para uma intervenção da Justiça, Miki pode perder o mandato antes de junho terminar.
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