POLÍTICA

Se receita não aumentar, prefeitura vai ter que cortar CCs e FGs

Esta é uma das medidas para as prefeituras que ultrapassam o limite de gasto de 54% da Receita Corrente Líquida com despesas de pessoal

Cachoeirinha – Depois de ter assumido a prefeitura em 2017 e encontrado o comprometimento de 77,67% da Receita Corrente Líquida (RCL) com despesas de pessoal, o prefeito Miki Breier adotou uma série de medidas, como corte de vantagens de servidores, e, contando com o aumento de receita, conseguiu baixar o percentual. A meta do prefeito era terminar a primeira gestão abaixo do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é de 51,30%. E foi alcançada.

O índice fechou 2020, conforme o Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 50,49% e nos quadrimestres posteriores baixou mais ainda, mas todos os esforços foram por água abaixo. Cachoeirinha fechou 2021 com um comprometimento da RCL em 55,71, retornando a patamares de 2019.

O problema foi ocasionado por uma interpretação do TCE sobre a Lei Complementar Nº 178 de 21 de janeiro de 2021 que estabeleceu o Programa de Acompanhamento e Transparência fiscal e o Plano do Equilíbrio Fiscal. Entre outras leis, ela alterou a Lei de Responsabilidade Fiscal, incluindo o Parágrafo 3º no artigo 19. Em decorrência desta mudança, o déficit atuarial que a Prefeitura tem com a previdência dos servidores passou a ser considerado como despesa de pessoal.


Diante disso, o percentual que estava batendo em 47%, fechou 2021 em 55,71%. A prefeito em exercício, Maurício Medeiros, chegou a se reunir com o presidente do TCE/RS, Alexandre Postal na última segunda-feira (11) para solicitar uma reavaliação neste entendimento sobre a mudança na LRF. A prefeitura divulgou uma nota em seu site sobre o encontro, mas não deu nenhum detalhe e nem fez referência sobre o posicionamento do conselheiro.

A reportagem apurou que esse não é um pedido somente de Cachoeirinha. Outros prefeitos já se reuniram com Postal e outros pretendem fazer a mesma cobrança. A resposta que ele deu a Maurício Medeiros é a que tem dado a outros prefeitos: o TCE/RS não vai mudar a forma de cálculo do comprometimento da RCL com a despesa de pessoal.

Como ultrapassou o limite de 54% da LRF, Cachoeirinha tem dois quadrimestres para promover ajustes. Ou faz cortes nas despesas com pessoal, como a redução no número de CCs e FGs, entre outras medidas, ou tem que contar com o desempenho da economia para que a receita aumente.

Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, a prefeitura não pode conceder vantagem, aumento, reajuste ou adequação da remuneração; não poderá criar cargo, emprego ou função; alterar a estrutura da carreira que implique aumento de despesa; prover cargo público ou contratar hora extra, exceto em alguns casos. A norma libera, contudo, a revisão anual da remuneração dos servidores, conforme previsto na Constituição.

Reajuste dos servidores pode

Na última segunda aconteceu uma reunião com o Sindicato dos Municipários (Simca) e outra está programada para a próxima quinta-feira (14). A prefeitura divulgou informação confusa em seu site sem esclarecer qual é a pedida dos servidores e como estão as negociações. A coordenadora sindical, Valdete Dias, explica à reportagem que a categoria está com uma defasagem salarial, conforme indicador do Dieese, de 40,70% já que não há recomposição há seis anos. No vale alimentação, a defasagem é de 27,30%.

O prefeito em exercício sinalizou no último encontro com um reajuste de 10%. O IPCA do ano passado fechou em 10,06%. O sindicato pediu que pelo menos o IPCA acumulado em 12 meses, que fechou março deste ano em 11,30%, seja concedido. “Vamos recuperar, então, pelo menos um ano”, afirma. Outra pedida foi o fim do escalonamento do vale alimentação. Há cinco anos, foram criadas faixas salarias e o vale muda conforme o que o servidor recebe de remuneração. “Há uma sinalização para o fim do escalonamento”, diz.

A Câmara aprovou na semana passada um reajuste no vale que corresponde a algo em torno de R$ 5,00. Com a recomposição inflacionária dos salários, contudo, servidores vão mudar de faixa e desta forma, no entendimento de Valdete, os R$ 5,00 se perdem.

A prefeitura não se manifesta sobre como pretende resolver o comprometimento da receita. O secretário da Fazenda, Nilo Moraes, não respondeu a contato feito pela reportagem e o mesmo fez o secretário de Governança e Gestão, João Tardeti.

Corte em CCs e FGs

O prazo de oito meses para ajustes nas despesas de pessoal não prevê apenas o corte de pelos menos 20% de CCs e FGs. O prefeito pode ainda, como segundo passo para diminuir a despesa, exonerar servidores não estáveis e, como última medida, demitir concursados. A redução de jornada de trabalho, com redução do salário, não é mais permitida por decisão do STF. Com o aumento a ser concedido ao funcionalismo, o comprometimento da Receita Corrente Líquida vai aumentar e com ele a necessidade mais urgente de medidas de ajustes.

Evolução da despesa com pessoalFonte: TCE/RS

AnoRCL% da RCLDespesa c/ pessoalPercentual
200252.388.427,9427.622.955,2952,73
200358.830.855,8312,3031.667.290,7153,83
200464.614.578,649,8336.383.492,4556,31
200583.345.314,0028,9941.105.427,0549,32
200690.707.488,608,8344.990.367,4449,60
2007105.842.085,7016,6953.922.763,4850,95
2008125.944.190,8718,9964.180.233,2550,96
2009133.998.541,426,4070.594.677,0252,68
2010158.964.911,1518,6379.903.800,1850,27
2011189.027.658,5418,9190.187.380,4747,71
2012203.528.024,587,67102.183.884,2950,21
2013237.017.353,5316,45112.060.836,2547,28
2014249.014.415,925,06129.567.748,3952,03
2015257.556.034,343,43136.779.688,3953,11
2016276.070.182,897,19214.431.876,6877,67
2017281.090.188,101,82181.637.053,4864,62
2018316.111.459,9412,46191.764.822,6960,66
2019335.482.335,636,13188.607.340,8056,22
2020364.057.280,918,52183.802.924,6650,49
2021427.498.765,0217,43238.171.751,7755,71

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