Prefeito e vítimas da enchente quase entram em confronto; há rumores de impeachment
Cansados de promessas, manifestantes não deixaram o prefeito falar e Guarda precisou entrar em ação

Cachoeirinha – Quase terminou em briga a manifestação de vítimas da enchente na frente da prefeitura de Cachoerinha na tarde desta sexta-feira (4) – veja vídeo no final da matéria. Representantes dos moradores do Parque da Matriz, Jardim América, Eunice Velha e Jardim Atlântico realizaram um apitaço aos gritos de “queremos uma solução”. O prefeito Cristian Wasem foi até a frente da prefeitura e ingressou no meio dos manifestantes para explicar que iria recebê-los, mas não naquele momento, pois considerava inadequado. Ele ainda teve tempo de dizer que a secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos tem feito a limpeza de bueiros, redes de esgoto e do Arroio Passinhos no Parque da Matriz antes de ser iniciado um princípio de tumulto.
O prefeito passou a ser ofendido por um manifestante e ao se retirar, quando tentou subir a rampa, um morador parou na frente com uma faixa. Um segurança o empurrou e Cristian, revoltado, precisou ser contido e levado para dentro do prédio da prefeitura. Esta foi a primeira vez que o prefeito foi visto publicamente em um estado de extrema irritação desde que iniciou na política. Os moradores vêm cobrando do prefeito a apresentação de estudos e projetos para conter as cheias do Arroio Passinhos e Rio Gravataí.
A prefeitura até vem trabalhando, mas segue sem nenhuma transparência e tem extrema dificuldade na comunicação. A população não sabe o que vem sendo feito porque a estratégia de comunicação hoje é a divulgação de vídeos do prefeito em redes sociais que não permitem uma profundidade nas obras e ações que vêm sendo realizadas. Ele até vem sendo chamado de “prefeito influencer”. Além disso, o prefeito não tem cumprido promessas.

O problema vai mais longe. A semana foi a mais tensa para Cristian e nos bastidores já falam em um processo de impeachment. O clima vem esquentando por diversos motivos. Um relatório de auditoria do Tribunal de Contas do Estado, aponta que ele e mais três pessoas, causaram um prejuízo de R$ 3,8 milhões aos cofres do Município na compra de 321 telas interativas para as escolas municipais.

Depois veio o projeto que ele encaminhou para a Câmara de Vereadores criando 15 cargos de Procurador Municipal com supersalários de R$ 18 mil além de outros benefícios. A proposta equipara o Assessor Jurídico a Procurador e os salários podem representar até o final do mandato, caso todos ganhem o teto constitucional, um gasto de R$ 30 milhões.
Outros fatores ajudam a desgastar a imagem do prefeito e a criar um clima de instabilidade política. A Corsan também entra no jogo. Há falta constante de água na cidade sem que a prefeitura cobre a Aega, que comprou a Estatal, e, para completar a história, Cristian enviou para a Câmara um projeto doando seis áreas no leito de ruas. Nos locais a empresa vai instalar elevatórias de esgoto. A presidente da Câmara, Jussara Caçapava, apesar de não votar, já disse que é contra.
Também há o movimento de Cristian, não confirmado oficialmente, de tentar levar a primeira-dama, Fabi Medeiros, para o PL, partido de Mano do Parque, para ela ser candidata a deputada estadual. A negociação não chegou a avançar porque Cristian não teria cumprido promessas feitas ao partido quando ele retirou a candidatura para favorecer a reeleição no enfrentamento contra David Almansa.
O ex-candidato a prefeito é autor de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral que aponta oito fatos que podem levar a cassação do mandato de Cristian e do seu vice, delegado João Paulo. Uma das testemunhas da acusação relatou nessa sexta-feira (4) que passou o dia recebendo telefonemas com ameaças. A juíza pediu essa semana mais provas e a audiência para ouvir testemunhas, marcada para a próxima terça-feira (8), foi adiada.
Na Sessão da última terça-feira (2) foi sintomático o posicionamento de parlamentares, em tese, alinhados ao Governo. Não houve defesas veementes. Quem mais falou e mesmo assim pouco, foi o Líder do Governo, Otoniel Gomes, mas com um tom de voz baixo, muito diferente de como costuma a defender a gestão.
O clima não está bom e Cristian foi até a Câmara essa semana e visitou gabinetes de vereadores da base aliada e se reuniu com a presidente Jussara Caçapava. Tratou de vários assuntos com os parlamentares, mas o principal teria sido o projeto dos advogados. Embora haja justificativa legal para unificar os cargos, a condução não tem convencido. O Assessor Jurídico prestou concurso para essa função e não para a de Procurador. As exigências, embora semelhantes, foram diferentes no ingresso na carreira. O cargo deveria entrar em extinção e novo concurso realizado. Outra é que uma emenda à Constituição, criando a carreira de Procurador Municipal, ainda não foi votada no Senado.
Existem outros problemas. O Código de Processo Civil prevê que os honorários de sucumbência, o que é pago pela parte perdedora em uma ação, iria para uma caixinha para ser dividido entre os advogados. Há entendimento que isso vai criar uma bomba relógio. Isso porque o Código de Processo Civil prevê que a sucumbência é do advogado que atuou na ação e não de colegas de trabalho. No futuro, quem teve que abrir mão de parte pode ingressar na Justiça e vencer uma ação milionária.
Nesta tarde, depois do confronto na frente da prefeitura, Cristian voltou a se reunir na Procuradoria-Geral do Município. Entre os assuntos, além da manifestação, estava o que será feito com o projeto dos supersalários. Não está descartada a retirada do projeto da Câmara para ser apresentado em outro momento.
Vereadores da base já não estão mais tão alinhados com o prefeito como no início do segundo mandato. Em apenas três meses o clima mudou completamente e há rumores de que um pedido de impeachment poderá ser apresentado no Legislativo. Aliados a Cristian estão tentando acalmar os descontentes.
Seguranças e Guarda Municipal entraram em ação