Tribuna Popular foi utilizada por representantes da Federação Gaúcha de Estomizados, que representa pessoas que utilizam bolsa de ostomia ou colostomia
Cachoeirinha – As Sessões da Câmara de Vereadores de Cachoeirinha costumam ser barulhentas, especialmente com espectadores conversando sem parar. Nesta terça-feira (14), contudo, foi diferente. Pelo menos por cerca de 15 minutos. A maioria acompanhou com olhar fixo o depoimento dramático de Marlene Hammes na Tribuna Popular, que por possuir uma doença hereditária, usa uma bolsa de ostomia há 29 anos. O vereador Major e o Líder de Governo, Otoniel Gomes, preferiram ficar mexendo nos celulares enquanto ela contava a história dramática que também envolve sua filha de 35 anos.

O espaço na Tribuna Popular foi utilizado pela Federação Gaúcha de Estomizados. Ela reúne pessoa que são obrigadas a usarem bolsas de ostomia ou colostomia, por um determinado tempo ou para sempre, devido a doenças hereditárias ou câncer de intestino, entre outras enfermidades. O conselheiro da federação, Miguel Anderson, mora há 21 anos em Cachoeirinha e há pelo menos quatro vem buscando de órgãos públicos uma atenção maior para as necessidades de quem precisa usar bolsas. No Rio Grande do Sul são 17 mil pessoas e em Cachoeirinha, cerca de 150.
Em Cachoeirinha, segundo ele, já ocorreram alguns avanços. A Câmara, por exemplo, vai preparar um banheiro para os estomizados. O presidente, Paulinho da Farmácia, disse que vai deixar todo o processo pronto para o próximo presidente, que deve ser Edison Cordeiro, executar a obra. Entre as maiores necessidades deste grupo de pessoas, segundo Handerson, está na constante pressão junto ao Governo do Estado para fornecer as bolsas. Outra é a falta de banheiros adaptados.
“Moro em Cachoeirinha há 18 anos e venho sendo um ativista em Cachoeirinha. Quando cheguei a pegar a primeira bolsa foi na Brambila [Secretaria da Saúde]. Foi muito cruel. Zero acolhimento, zero atendimento, zero tudo. Para abreviar, o estado do Odil [unidade de saúde], já avançou bastante. Estamos nos aproximando da excelência”, disse. O vereador Marco Barbosa vem sendo o apoiador da federação desde 2021.
O depoimento de Marlene chamou a atenção pelo drama vivido por ela e sua filha, que possui a mesma doença hereditária. Com 15 anos, ela colocou a primeira bolsa. Hoje tem 35 anos e vai voltar a usar bolsa e será para o resto da vida. “Quando eu fui estomizada eu passei muito trabalho. Isso não era nem falado. Era escondido porque a gente sofria muito preconceito. Isso existe ainda. Eles acham que a gente usa uma bolsa e não somos ninguém. Sem uma bolsa, nós não vivemos. Nós temos duas opções. Ou usamos uma bolsa, ou vamos morrer. Não temos outra alternativa”, disse.
O câncer de intestino é um dos grandes responsáveis pela necessidade do uso de uma bolsa. A doença é silenciosa e Marlene destaca que a prevenção é importante e há dificuldades, por exemplo, para obtenção de exames de fezes e colonoscopia. “Quando a pessoa chega lá, já está tomada.”

Marlene e Handerson – Foto: Delmar Costa/Câmara
“O meu caso é diferente, mas também se torna um câncer. A minha doença não tem uma cura. Nós precisamos que a sociedade olhe para nós. Agora, a secretaria da Saúde está dando ouvidos para nós. Agora ela entendeu a gravidade da situação. Precisamos fazer exames para prevenir a doença [câncer]. Não é fácil. Não temos um banheiro, não temos para onde ir. E quando não temos bolsa, não temos como ir para a rua ou comer”, destacou.
Marlene chegou a atenção para outro drama vivido pelas pessoas que recebem do médico a informação de que precisarão usar uma bolsa para o resto da vida. “Somos muitas pessoas e há gente que não aceita. Elas preferem se matar. A pessoa que não aceita, também se mata, porque muda a estética do organismo, a estética do corpo, a roupa, a gente tem que cuidar a alimentação. Então, por trás disso, existe um monte de coisa”, destacou.
Qual a diferença de bolsa de ostomia e colostomia?
As ostomias, conforme informações do Instituto Proctogastro, são cirurgias realizadas para construir um novo caminho que liga um órgão ao meio externo. As ostomias intestinais, ou seja, a colostomia e a ileostomia, desviam o fluxo das fezes até uma abertura realizada cirurgicamente no abdômen, chamada de estoma. Dessa forma, as fezes passam a ser coletadas por uma bolsa removível, que deve ser higienizada ao longo do dia.As realizações dessas intervenções são muito comuns após a cirurgia de retirada parcial ou total do cólon ou do intestino, devido ao câncer, doenças inflamatórias intestinais, diverticulite ou na prevenção de neoplasias intestinais. No entanto, nem todas as ostomias são iguais e vão variar de acordo com a localização da abertura no intestino e sua função.