OPINIÃO: o erro gigantesco de Jussara ao querer construir hospital
Presidente a Câmara disse na Sessão desta terça-feira (8) que vai apresentar projeto no Legislativo
A presidente da Câmara de Vereadores, Jussara Caçapava, disse na Sessão desta terça-feira (8) que vai apresentar um projeto polêmico prevendo a construção de um hospital da Zona Norte de Cachoeirinha. Ela acertou em classificá-lo de polêmico porque é completamente descabido para a realidade do Município hoje e será por muitos anos, afirmo. A parlamentar não adiantou detalhes da proposta.
Precisamos analisar alguns pontos importantes para entendermos ser um erro gigantesco este projeto. Cachoeirinha está hoje no nível de gestão do SUS chamado de Gestão Plena da Atenção Básica e tem um hospital gerido pelo Estado, assim como diversos serviços, como o de traumatologia. A cidade pode avançar para a Gestão Plena do Sistema Municipal, mas deve cumprir uma série de requisitos. Neste novo modelo de gestão, a Prefeitura passa a gerir completamente o SUS na cidade.
Construir e manter um hospital exige investimentos de muitos milhões. Vamos ver o caso do Dom João Becker aqui do lado, em Gravataí. Só para ampliar a emergência de 9 para 26 leitos e a UTI de 10 para 20 leitos são necessários R$ 13 milhões. Esse dinheiro, claro, pode ser obtido com emendas parlamentares, doações da comunidade e aportes de recursos do Estado e União.
Mas só construir um prédio e colocar equipamentos dentro dele não é o suficiente. A manutenção consome uma monta significativa de recursos. E os repasses feitos pelo Estado e União nunca cobrem estas despesas e aí a Prefeitura vai ter que deixar de fazer muitos serviços para a população só para manter o hospital.
Cachoeirinha não precisa de um hospital na Zona Norte. E talvez nunca vá precisar. É justa a preocupação da vereadora em querer apresentar uma solução para a região onde fica seu reduto eleitoral, mas criar uma ilusão nas pessoas não parece ser a melhor.
Uma das reclamações mais ouvidas é que não temos serviço de traumatologia e pacientes acabam indo parar em Viamão. Hoje, até onde sei, a implantação desta especialidade, mesmo que em parceria com a iniciativa privada, não teria repasses para cobrir os custos, ou seja, o que fosse faltar teria que sair dos cofres da Prefeitura. Temos ainda problemas nos exames que demoram uma eternidade.
O caminho para começarmos a resolver todas as questões que envolvem a saúde na cidade passa, necessariamente, por um amplo debate. Precisamos avaliar a distribuição das unidades de saúde, números de atendimentos, número de profissionais de saúde, quais são as maiores queixas da população, o orçamento que temos e o que o SUS faz de repasses.
É preciso termos um projeto realista para avançarmos para a Gestão Plena do Sistema Municipal e reorganizarmos todo o SUS na cidade. Neste ponto entra o hospital Padre Jeremias, que poderia ser municipalizado e, conforme um planejamento, poderia passar a oferecer mais serviços. Poderia ter UTI, traumatologia e por aí afora. E a Zona Norte? Bom, precisamos considerar que a cidade tem uma área territorial muito pequena e a maior parcela da população reside nesta área. Talvez uma nova UPA ou até mesmo a transferência da atual para lá seja uma solução. Ou ainda a reativação do posto 24 horas.
A preocupação da vereadora em querer solução para reclamações da população, que não é uma particularidade de Cachoeirinha, está muito correta. O caminho escolhido, contudo, está muito errado. Ela vai descobrir isso e espero que mantenha o interesse e se aprofunde no assunto. O debate será muito bom e dele podem sair ideias para avançarmos na prestação de um melhor serviço para a população.