OPINIÃO: limpeza do Rio Gravataí não pode prejudicar a população

Prefeito Cristian está certo em se preocupar em buscar uma solução, mas essa conta não deve ser paga pela população
Primeiro vamos alinhar uma coisa: o prefeito Cristian Wasem está correto em se preocupar em buscar uma solução para remover o lixo acumulado no Rio Gravataí em Cachoeirinha e em sonhar com sua despoluição. Isso não se discute. Já que todos estamos de acordo, eu quero dizer que a população de Cachoeirinha não pode pagar essa conta, pelo menos sozinha. A limpeza vai custar muito mais do que a empresa contratada está cobrando para retirar os detritos e levar tudo até uma área da prefeitura próxima do estádio do Cruzeiro.
As macrófitas e o lixo precisarão ser transportados depois para um aterro sanitário. Isso não é nada barato e vai sair do bolso do cidadão de Cachoeirinha se outra solução não for encontrada. Tenho ouvido que haverá uma negociação com os municípios da região para um rateio de todas as despesas. Como sabemos como funcionam as coisas na esfera pública, essa divisão de despesas deverá se transformar em uma novela. Espero estar enganado.

O prefeito assumiu para si uma responsabilidade que não é só dele e já deve ter percebido quão complexo é. Deveria ter liderado um movimento para cobrar das autoridades ambientais uma providência envolvendo todos os nove municípios que integram a bacia hidrográfica. Alguém poderá dizer que iria demorar muito e o lixo poderia parar no Guaíba. Mas a culpa é de Cachoeirinha, da população? Ela tem sua parcela, mas não é só dela. E isso não é de agora. Vem de muitos anos.
Essa ação, que ganhou destaque na grande mídia, está tirando recursos da população de Cachoeirinha. O 1,3 milhão cobrado pela empresa vem do fundo de gestão compartilhada da Corsan. Ali tem dinheiro que deveria ser investido em obras de saneamento para acabar com alagamentos cujos projetos repousam em gavetas. O pagamento do aterro vai exigir recursos não orçados que virão do IPTU pago pela população.
Esse é apenas um dos aspectos. Há ainda a energia gasta com a preocupação em resolver o problema sem solução imediata, pois mais material vai descer o rio e se acumular novamente em Cachoeirinha. A ideia do prefeito de criar um consórcio como o Pró-Sinos é elogiável e um caminho para que todas as prefeituras se envolvam na busca de soluções. Colocar a mão na massa com dinheiro não orçado esperando receber no futuro não é adequado.
Se Cachoeirinha tivesse sua rede escolar toda reformada, com os postos de saúde dentro de um padrão moderno, com as ruas sem buracos, com os bairros sem alagamentos, com a prefeitura não precisando alugar mais dois prédios porque não tem um centro administrativo, com moradia digna para centenas de famílias que vivem em áreas invadidas, aí eu concordo que poderíamos pegar esse dinheiro sobrando para investir no rio. Toda a energia gasta na coleta desse lixo deveria ser canalizada para resolver esses problemas históricos, principalmente.
Sei que podem dizer que tudo o que precisa ser feito está sendo encaminhado em todas as áreas. Nós sabemos, contudo, que isso não passa de discurso. As coisas não funcionam assim. O prefeito não deve investir mais um centavo da população na limpeza do rio. Deve, isto sim, se empenhar na criação do Pró-Gravataí para que as responsabilidades sejam divididas. E cobrar dos prefeitos da região o dinheiro que tirou da população.