Roque Lopes

Opinião: Corsan está 80% certa e vereadores 100% errados

Parlamentares defendem o que não pode ser inscrito na ordem do possível

Os procedimentos adotados pela Corsan/Aegea vêm causando muitas reclamações de usuários e no Legislativo o festival de declarações de vereadores, desalinhadas com a realidade, causa ainda mais confusão na população. Não sei se estão agindo assim porque estamos nos aproximando da eleição, se é por falta de informação ou outro motivo que está além da minha capacidade de compreender.

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O superintendente institucional da Região Metropolitana e Litoral da empresa, Luciano Brandão, foi mais cristalino que a água que, por vezes, chega nas torneiras de muitas casas. O que todos precisam entender é que a Corsan deixou de ser uma estatal relapsa. Agora é uma empresa privada e tudo o que faz é regulado e tem fiscalização.

As taxas e multas não são definidas por ela. Quem trata disso é a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Aegea). Se a Corsan, quando era uma empresa pública, não fazia fiscalização, dava prazos longos para inadimplentes acertarem suas contas, não mandava devedores para o SPC, não agia contra poços artesianos, isso é coisa do passado. Agora, a Aegea vai cumprir com o que está escrito no contrato e previsto na legislação. O que acontece é que a transição entre o modelo público e privado foi muito abrupta e pegou usuários, acostumados com a complacência da estatal, de surpresa.

A Corsan/Aegea está 80% correta e as pessoas precisam entender que as regras precisam ser cumpridas. Os 20% do que não estão corretos reside na decisão empresarial de sair notificando todo mundo que tem as tampas de caixas de inspeção cobertas. A Corsan nunca fez isso e deveria haver uma estratégia. A empresa poderia ter anunciado um programa de regularização dos acessos às caixas, criado um manual, feito uma ampla divulgação para depois começar a notificar e multar.

Já o envio de inadimplentes para o SPC depois de 15 dias de atraso é um exagero. Também poderia ter definido uma estratégia de comunicação e dar um prazo maior, como 30 dias. Há ainda reclamações sobre ramais de esgoto entupidos, cuja taxa para desobstrução é de R$ 163,63. Está lá na tabela de tarifas definida pela Agergs que essa cobrança deve ser feita. Ou alguém acha que a empresa tem que tirar de graça absorventes e outros objetos jogados nos sanitários e que obstruem os canos?

Vereadores deveriam parar com os discursos desalinhados com a realidade. Repito: só confundem a população. Ficar dizendo que a Corsan/Aegea não paga suas multas e que não perdoa a população é muito raso. Uma coisa não tem nenhuma relação com a outra.

Os parlamentares têm o direito e o dever de trazerem para o debate as dores da população, mas não da forma como estão fazendo. Temos que subir o nível e todos têm condições para isso. Como eu sou pragmático, colocaria um fim nessa lenga lenga que não leva a lugar nenhum.

Criem uma Frente Parlamentar e negociem com a Corsan um plano para ela fazer o que precisa fazer. Não adianta ir para uma reunião e ficar falando o que falaram até agora. Tem que desobstruir tampas das caixas de esgoto? Certo. Então vamos desenhar um plano e avisar a população e só depois multar quem não fizer as correções. O prazo de 15 dias para os inadimplentes é curto? Vamos conversar para saber se não tem como ampliar esse prazo. A taxa cobrada por serviços está alta e as multas também? Então vamos nos reunir com a Agergs e ver o que pode ser feito. As ruas estão ficando esburacadas com a instalação da rede de esgoto? Vamos lá falar com o prefeito Cristian Wasem e perguntar para ele: o que falta para o senhor fazer o seu papel de fiscalizar as obras?

Os vereadores estão 100% errados. Só estão 100% certos sobre o que sai das torneiras, por vezes. Mesmo que análises aprovem a água para consumo humano, convenhamos que fica difícil aguentar cheiro e gosto ruim. Mas usar o microfone nas Sessões para dizer que a água é podre não resolve nada. É tão ruim quanto a água. Será que tem como resolver isso? O que provoca o gosto ruim, a cor, o cheiro? Qual é a explicação técnica?

Será que é possível perceber que mudando o nível do debate podemos encontrar soluções para as queixas da população? Os vereadores foram eleitos para representar o povo e não para ser o povo que não sabe o que está acontecendo e fica berrando sem saber para que lado correr. Se fosse para isso, não precisaríamos de vereadores.

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