Aos 32 anos, Ruan passou 27 dias internado, 12 deles no respirador em coma induzido
Cachoeirinha – O jovem empresário Ruan de Oliveira Antunes, 32 anos, morador do bairro Moradas do Bosque, conta como foram seus 27 dias de luta contra o novo coronavírus. Após sua alta, que aconteceu dia 12 de julho, e sentindo-se melhor, ele conversou com a reportagem de O Repórter.
Quando você começou a sentir os primeiros sintomas e quais foram?
Foi dia 11 de junho, quando saí pra comprar o presente da minha esposa para o Dia dos Namorados. No dia 12, tínhamos combinado de sair para jantar, mas já não consegui levantar da cama, com febre bem alta. A princípio pensei que fosse apenas garganta. Como tinha azitromicina em casa comecei a tomar, eram três doses. Como conheço meu organismo, quando eu tomo o segundo comprimido já me sinto melhor. O que aconteceu é que tomei a terceira dose, dia 14, e não melhorei nada. Continuei com fortes dores no corpo e na cabeça e a febre permaneceu.
Em que momento você procurou atendimento médico?
Somente no dia 15 eu fui até o Hospital Mãe de Deus, por causa da febre e da dor. Não sentia falta de ar, mas chegando lá, fizeram o exame e já me encaminharam para o setor de Covid. Mediram minha saturação (nível de oxigenação dos pulmões) e notaram que estava baixa e caindo. Fizeram Raio X e apareceu que meu pulmão estava 50% debilitado. Tudo aconteceu muito rápido. No dia seguinte, um novo exame mostrou comprometimento de 70% dos pulmões pela pneumonia ocasionada pela Covid. Foi quando os médicos entraram em contato com minha família informando que eu teria de ser entubado e entraria no coma induzido.
Quanto tempo desde os primeiros sintomas até precisar de entubação?
Do primeiro sintoma até eu ir para o CTI foram apenas seis dias, a progressão foi muito rápida. Meu quadro estava bem grave. Pela falta de oxigenação do sangue, por causa da debilidade dos pulmões, podia acontecer de eu ter um AVC entre outros problemas decorrentes disso.
Como foi o tratamento e quais recursos foram usados?
No dia seguinte após eu ser entubado, chamaram a minha família, junto com psicólogos, para informar que o meu estado era muito grave. Então o Dr. Rodrigo Boldo, que estava responsável pelo meu caso, perguntou para minha mãe e para minha esposa se autorizavam que eu participasse de um estudo, que havia sido liberado pela OMS, de uma medicação experimental que estava sendo testada. Ele disse que pelo fato de eu ter 32 anos, ter filhos pequenos, me encaixava no perfil. Minha família aprovou e começaram a administrar a medicação. Foram três dias de melhora até eu voltar a ter febre. O motivo foi uma bactéria que peguei no hospital na entubação. A infecção foi sanada e o tratamento continuou. No total foram 12 dias entubado e 15 dias de CTI.
Em algum momento você sentiu medo?
Quando eu desci para a CTI não tinha noção da gravidade do meu caso, mesmo sabendo que este é o último recurso para salvar uma vida, mas sempre me mantive confiante. Não sentia falta de ar, mas minha oxigenação estava muito ruim. Só fui entender tudo o que tinha passado e a angústia que minha família tinha vivido quando retornei do coma. Como eu tenho plano, fui direto para um hospital particular e tive acesso a tudo que precisava. Mas eu acredito que se eu tivesse que depender do Estado, não teria a mesma chance, talvez nem estivesse aqui. Infelizmente a falta de condições e a falta de comprometimento do Estado com esses cuidados está deixando muitas pessoas morrerem.
Como se sentiu na volta do coma induzido, após ser extubado?
Depois que acordamos do coma induzido, o organismo leva 40 dias para liberar toda medicação e nos primeiros dias você oscila muito entre realidade e ficção. Hoje estou bem. Sofri há alguns anos atrás um acidente de carro que me deixou com múltiplas fraturas e onde perdi uma perna. Já tinha passado por essa situação de internação longa e CTI. Com certeza a situação do acidente foi muito mais grave, mas agora com o Covid foram poucos dias comparados com os do acidentes, mas de muita intensidade. Perdi força muscular, o que é essencial pra mim, por ter apenas uma das pernas. Meus pulmões ainda não estão 100%, ainda continuo fazendo exames e acompanhamento.
Qual era tua impressão sobre a pandemia antes de contrair o vírus e o que mudou depois?
O que eu pensava sobre o vírus antes não mudou para agora, pois sou um cara que procuro estar atualizado e informado sobre o que está acontecendo, através de fontes seguras de informação. No Brasil, são quase três milhões de pessoas detectadas com o vírus, fora as assintomáticas, e eu acredito que esse número seja dobrado. Poucas pessoas vão escapar de pegar o Covid-19. Se a vacina sair até o final do ano e o governo começar a imunizar a população, talvez essa realidade mude. É triste saber que o Estado não consegue comportar todos os que ficarem doentes. Eu sei que fui privilegiado por ter plano de saúde e acesso ao melhor tratamento, mas muitos estão perdendo a vida, não para a doença, mas pelo estado precário em que se encontra o serviço de saúde pública. Os profissionais que trabalham nos hospitais, que atendem pelo SUS, estão tendo que se virar com falta de medicação, sem insumos, e não tem como combater um vírus tão forte sem recursos.
Qual conselho você deixa, após essa experiência?
Se cuidem, sigam as orientações, não apenas usem máscaras, mas lavem elas diariamente. Lavem mais as mãos, pois é muito mais seguro que o próprio uso do álcool gel. Lave o antebraço também. Roer as unhas é muito perigoso, pois não conseguimos limpar corretamente naquela região que está sempre em contato com a boca por causa do hábito. No primeiro sintoma procure atendimento. Talvez meu caso não tivesse se agravado tanto se eu não tivesse levado tantos dias para procurar atendimento.
Na última semana de julho, Ruan voltou ao Hospital Mãe de Deus, desta vez para agradecer toda equipe que o atendeu durante o tratamento. “Fiz questão de retornar somente para agradecer, levei uma lembrança e uma carta de agradecimento para cada um, por terem se empenhado tanto em salvar minha vida, aos médicos Carlos Munhoz, Rodrigo Boldo, doutora Fabíola e aos técnicos Tissi, Carol e Pedro, dos quais não lembro o sobrenome, mas que estiveram comigo, diariamente durante essa luta. Sem eles não teria vencido”, emociona-se.