Mulheres denunciam brigadianos por agressões na Ronda Crioula
Caso também ganhou contornos de homofobia por envolver um casal de mulheres e irmã de uma delas

Cachoeirinha – O final do baile da última sexta-feira (19) da Ronda Crioula de Cachoeirinha terminou com um tumulto no Parque de Eventos com mulheres sendo agredidas por brigadianos. O caso envolveu um casal de mulheres, a irmã de uma delas, e amigas. O episódio também ganhou contornos de homofobia, denunciada na Câmara pelo vereador Gustavo Almansa.
Tudo começou, conforme relatou uma das vítimas, a estudante de Direito, Thalia Martins, quando ela, a namorada, cunhada e amigas estavam se dirigindo para a saída do Parque de Eventos, já na madrugada de sábado (20). A namorada foi ao banheiro e logo depois, ela também entrou na fila.
Momentos depois, brigadianos chegaram e teve início uma discussão. Gás de pimenta foi jogado no grupo e policiais partiram para cima da namorada e cunhada de Thalia. O que se viu depois, conforme vídeos, foram as duas apanhando e a cunhada com um corte na cabeça, sangrando.
Thalia conta em vídeo publicado em sua rede social que as duas foram levadas para dentro do galpão da BM no Parque de Eventos e não queriam deixar ela entrar para ver como estavam. E a confusão não terminou ali. Feridas, as duas mulheres foram levadas para a UPA de Cachoeirinha. Lá, quatro brigadianos continuaram agredindo as mulheres, segundo Thalia.
Na UPA, o ferimento na cabeça da cunhada de Thalia foi apenas limpo e aplicado um curativo por uma enfermeira e a médica não teria feito um exame. “No boletim de atendimento aparecem que elas não tinham escoriações, não estavam com sangramento, o que é mentira, porque no vídeo aparece a minha cunhada sangrando. Além de negarem o atendimento devido, elas estavam sendo agredidas”, disse Thalia.
Saindo da UPA, as mulheres foram até o 26º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para registrar a ocorrência e foram informadas de que deveriam procurar a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), em Gravataí. Lá, disseram que o registro deveria ocorrer no BPM.
Segundo Thalia, elas retornaram e não conseguiram. A cunhada continuava sangrando e dali todas foram até o Hospital Padre Jeremias. O coágulo na cabeça foi drenado e o ferimento fechado com quatro pontos. As mulheres estavam com diversos hematomas e uma delas com o rosto arranhado já que foi derrubada pelos policiais no Parque de Eventos. Vídeos e fotos comprovam as agressões e lesões.
Depois de saíram do hospital, todas foram novamente para a DPPA e mais uma vez foram orientadas que o BPM deveria aceitar o registro da ocorrência. Novamente, no BPM, não foram atendidas.
Thalia conta que enquanto a namorada e cunhada apanhavam, um brigadiano dizia que elas deveriam apanhar quem nem homem já que se vestiam como homem. “A Brigada era para nos manter seguros … É extremamente revoltante, ainda mais mulheres sendo agredidas por brigadianos”, disse Thalia, que prometeu levar o caso à Corregedoria-Geral da BM e tomar as outras medidas cabíveis.
Caso repercute na Câmara
Na Sessão da última terça-feira (23), o vereador Gustavo Almansa abordou o caso. “A Brigada Militar agrediu de forma violenta e desrespeitosa um casal de meninas com a seguinte frase: Você quer apanhar porque você tá querendo ser macho. Ele disse para ela, simplesmente por namorar outra mulher. Isso é um crime de homofobia, a gente está falando de misoginia (ódio contra mulheres) e a gente está falando de algo muito sério que é aquilo que a gente chama de humanidade, que foi deixado de lado. Isso não pode acontecer. E eu não estou aqui entrando no mérito do porquê que toda correria aconteceu, porque isso elas já estão vendo por meio das instituições”, disse.
O caso foi levado até a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. O vereador Leonardo da Costa acrescentou que é preciso investigar o que aconteceu no atendimento na UPA.
BM instaura Inquérito
O comandante do 26º Batalhão de Polícia Militar (BPM), Tenente coronel Roberto dos Santos Donato, disse que foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o fato. Imagens do local e da Unidade de Pronto Atendimento de Cachoeirinha, onde aconteceram os fatos já foram recolhidas. E na quarta-feira (24), as pessoas envolvidas na ocorrencia foram notificadas para serem ouvidas a partir desta sexta-feira (26).
O que diz a Prefeitura
A Prefeitura de Cachoeirinha informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que será intaurada uma Sindicância Administrativa para apurar os fatos.