Cachoeirinha não está entre as mais violentas contra a comunidade LGBTQIA+
Dados divulgados por sites no Rio Grande do Sul com base em informações da Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania estão errados
Cachoeirinha – Um ranking das cidades mais violentas do Rio Grande do Sul contra a população LGBTQIA+, com base em dados do Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, está errado. O site oreporter.net fez a checagem dos dados no dashboard da Ouvidoria e descobriu que Cachoeirinha, que estaria em sétimo lugar, não tem 41 denúncias esse ano. São, na verdade, apenas nove denúncias. O número 41 se refere a soma das violações que cada uma das pessoas denunciou.
Porto Alegre, que aparece em primeiro no ranking, com 395 casos, na verdade tem apenas 74. E essas pessoas denunciaram 407 violações e não 395. A reportagem não conseguiu localizar quem fez o levantamento divulgado por um site de Pelotas e outro de Gravataí na segunda-feira (29). No texto, um professor de direito da Faculdade Anhanguera fala que “abordar esses dados e fomentar a conscientização, visa garantir que as pessoas LGBTQIAPN+ tenham os mesmos direitos e oportunidades que qualquer outro cidadão”, o que está correto, embora em um contexto errado. A Faculdade Anhanguera não deu retorno sobre o contato feito pelo reportagem.
O vereador Gustavo Almansa, homossexual assumido, argumenta que não seria possível saber quão violenta Cachoeirinha é com a comunidade LGBTQIA+. Há duas situações, pelo menos, que não proporcionam dados mais próximos da realidade. O primeiro ponto é que nem todas as vítimas denunciam. Já o outro é que a cidade não possui uma estrutura de atendimento para elas.
“Esse ponto de vista é um. As pessoas vão lá [na Ouvidoria] e denunciam. Mas a gente tem ciência de que várias pessoas procuram a Delegacia de Combate à Intolerância em Porto Alegre justamente porque nós não temos esse serviço aqui. Então, esse número, obviamente, é subnotificado. Por exemplo, as meninas que foram agredidas em um ataque lesbofóbico na Ronda Crioula, elas foram denunciar em Porto Alegre, porque falaram que não era aqui. Então, temos um despreparo do Município com essa questão. Eu próprio já fui até Porto Alegre denunciar ataques homofóbicos que sofri em rede social”, argumenta.
Segundo o vereador, a maioria dos casos não são denunciados. “Acho que o trabalho de as pessoas saberem que a homofobia, a LGBT fobia em si, é crime, tem gerado um pouco mais de denúncias formalizadas. Mas a maioria delas não são formalizadas. E quando são, muitas não são aqui no nosso município. Então, a gente tem que olhar esse outro ponto de vista”, afirma.
Gustavo lembra que na próxima quarta-feira (1), com o lançamento do Censo LGBTQIAPN+, será possível ter um número mais próximo da realidade sobre quantas pessoas sofrem ataques homofóbicos em Cachoeirinha.
Um dado mais preciso
O Brasil permaneceu, em 2024, como o país com maior número de homicídios e suicídios de pessoas LGBT+ no Mundo. Foram registradas 291 mortes violentas, 34 casos a mais do que em 2023, um aumento de 8,83% em relação ao ano anterior (257 mortes). Uma morte violenta de LGBT a cada 30 horas. Nesse total estão incluídos 273 homicídios e 18 suicídios. Os dados foram divulgados pelo Grupo Gay Bahia (GGB), a mais antiga organização não governamental LGBT+ da América Latina, que realiza este levantamento desde 1980, há 45 anos.